A PERDA AUDITIVA DE BEETHOVEN
Aos 31 anos, Beethoven já ouvia muito pouco, mas seguiu compondo até a morte, aos 56 anos | Créditos da imagem: Arte de Sergio Artigas (http://artigas.deviantart.com/art/Ludwig-van-Beethoven-07-152989423) A perda auditiva de Beethoven.
Testamento de Heilingenstadt
“Devo viver como um exilado. Se me acerco de um grupo, sinto-me preso de uma pungente angústia, pelo receio que descubram meu triste estado. E assim vivi este meio ano em que passei no campo. Mas que humilhação quando ao meu lado alguém percebia o som longínquo de uma flauta e eu nada ouvia! Ou escutava o canto de um pastor e eu nada escutava! Esses incidentes levaram-me quase ao desespero e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, eu pusesse fim à minha existência. Só a arte me amparou!”
Ludwig van Beethoven, no Testamento de Heilingenstadt, em 6 de outubro de 1802
Beethoven, nascido em 1770, tinha uma audição normal quando criança. No entanto, ao entrar na adolescência começou a perceber uma leve perda auditiva que foi se agravando aos poucos. O grande compositor morreu completamente surdo, aos 57 anos de idade.
A grande maioria das pessoas já ouviu falar ou melhor, já escutou alguma obra de Beethoven. O que intriga a todos é como esse compositor sensacional conseguiu realizar obras tão perfeitas sendo surdo? Lembrando que um músico necessita da sua audição o tempo todo para realizar seu trabalho!
A perda auditiva de Beethoven
Beethoven começou a ter dificuldades em ouvir quando tinha aproximadamente 28 anos. Por volta dos 45 já tinha perdido por completo sua audição. O músico morreu com 56 anos e a causa da sua perda auditiva continua sendo um desafio para os médicos especialistas.
No ano de 1801, Beethoven menciona a perda de audição, cada vez maior, percebida durante os últimos 3 anos. Ele explica que precisava ficar muito próximo à orquestra para conseguir entender as composições. Relata que era um desafio ser capaz de compreender o que as pessoas estavam falando, mesmo quando estavam próximas a ele. E descrevia a queixa mais característica das pessoas com perda auditiva: “eu escuto, mas não entendo o que está sendo dito”. Todas essas queixas são documentadas em uma carta enviada ao seu médico, quando ele estava com 31 anos de idade.
Infelizmente não conseguiu nenhum tratamento para a sua surdez, apesar de ter procurado vários especialistas. Teve que aceitar e aprender a conviver com a sua deficiência, principalmente sendo um compositor e vivendo da música.
Em outubro de 1802, Beethoven escreveu uma carta aos seus irmãos, chamada posteriormente de “O testamento de Heiligenstadt”.
“…..de há seis anos para cá tenho estado irremediavelmente doente, e o meu estado tem-se agravado com ajuda de médicos insensatos. Ano após ano, tenho sido ludibriado por falsas esperanças de obter melhoras, mas fui finalmente obrigado a aceitar a ideia de que tenho uma doença para toda a vida…….Oh quão fortemente me afetou este revés, esta experiência duplamente triste que é ser surdo.”
As consequências da perda auditiva na vida de Beethoven
Nesse relato ficam evidentes as consequências da perda auditiva na vida de Beethoven e de tantas outras pessoas: irritabilidade, mau humor, depressão e isolamento social.
“….. Há dois anos que evito praticamente todas as reuniões sociais, porque me é impossível dizer às pessoas “sou surdo”. Se tivesse outra profissão era bem mais fácil, mas nesta profissão, confesso que é um estado muito assustador…” Ludwig Van Beethoven.
Durante o período de depressão e reclusão devido à surdez Beethoven escreveu algumas de suas composições mais complexas.
Não é possível afirmar em que momento da vida Beethoven perdeu por completo a audição, mas, relatos da época, falam que as pessoas precisavam gritar junto ao ouvido dele para que ele conseguisse escutar.
Deficiente auditivo severo
O compositor buscou ajuda médica durante muito tempo, negando-se a aceitar a sua perda auditiva. Até que em 1822 se deu por vencido e, sem ter o que fazer, aceitou a sua condição de deficiente auditivo severo.
A Nona Sinfonia é uma das suas obras mais famosas, tendo sido exibida em 1824. Na ocasião, menciona-se o fato de que Beethoven continuou a conduzir a sinfonia mesmo depois da finalização. Infelizmente não foi capaz de ouvir nem os aplausos do público, encantado com a sua composição.
A solução encontrada por Beethoven para se comunicar foi a redação de cartas. O que resultou em uma obra primorosa de cartas e “livros de conversação”, que contribuíram para contar a sua história e o drama por ele vivido.
Beethoven morreu em 1827. Na sua autópsia verificou-se que os nervos auditivos estavam atrofiados, e sua trompa de Eustáquio (tuba auditiva) estava reduzida, o que explica a sua perda de audição. No entanto, não esclarece a causa da sua deficiência auditiva, embora existam diversas teorias a respeito.
Desde a sua morte, especialistas em medicina têm tentado descobrir o que causou a perda de audição de Beethoven. Alguns dizem que a causa foi otosclerose, outros intoxicação por chumbo mas, nenhum diagnóstico foi conclusivo.
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Tatiana Guedes Santólia Martini
Fonoaudióloga – CRFa: 6-3289
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